quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Coração filha da p...

"Que inferno! Que calor desumano... porque que eu fui pegar esse busú lotado? Aliás, porque que eu fui me meter pra fazer esse curso nesse horário?". Enquanto o calor subia à medida que iam entrando mais pessoas, a percepção de Davi ia fluindo como uma represa recém-aberta: o baleiro de voz cantante, a mulher dormindo de boca aberta, o mané que tentava passar onde não havia espaço, os óculos escuros vazios da moça, a criança que chorava lá no fundo, e outras mil coisas que aconteciam ao mesmo tempo e (por maldição!) era o único que tava se dando conta de todas essas coisas.
Depois do engarrafamento mostruoso-de-todo-dia o motorista do ônibus corria mais e se arriscava na mesma proporção. Mais pessoas desciam e pouquíssimas subiam, ainda bem! Davi, agora sentado, era atacado por aqueles pensamentos sobre Larissa, lembrando dos detalhes daquele sonho idiota em que os dois travavam uma conversa sobre o trabalho a ser feito em grupo e sabe-se lá mais o quê. Nada fazia sentido, inclusive lembrar desse sonho, mas tudo fazia sentido ao lembrar daquele rosto. "Porra, porque que eu fui ficar ligado justo nessa menina?", pensou.
- Essas balinhas baratinhas, por apenas um real o pacote... - falou o baleiro num momento de distração de Davi. "O que eu queria mesmo é falar tudo de uma vez só e me livrar logo dessa m... desse sentimento". 
O cara já não sabia mais o que fazer. Começou só com uma pontada depois de Larissa dar um abraço de despedida, e aí o rosto não saiu da cabeça, os detalhes da conversa não foram embora e bum! Agora não conseguia nem ser direito ainda que os atos praticamente continuassem os mesmos.
Mas de repente, como um punhado de maisena atinge tua cabeça no carnaval, uma garota se sentou desequilibrando e quaaaaase caindo por cima de Davi. Saindo do estupor ele olhou e ouviu um pedido de desculpas do sorriso mais belo que já tinha visto. Um olhar cruzado por milésimos de segundo, talvez segundos, minutos, ou será a eternidade? Uma conversa descontraída, uma apresentação e um papo que não tinha nem pé nem cabeça, passando por trabalho, faculdade, cinema e a marcação de um novo encontro. Quaaaaase perdeu o ponto e na pressa desceu do busú, nem pegou o telefone dela.
- QUE BURRO! - disse dando um tapa de mão aberta na testa e uma mulher ficou olhando pra ele como se ele fosse doido. E era mesmo. O herói ficou sem mocinha e sem final feliz no fim do filme. "Que mané que eu sou". 
Larissa? "Ah é mesmo, Larissa. Ah deixa pra lá". Ele tava curado, mas só tinha vontade de dar um tiro na cabeça. Mal sabia o herói que o coração já tinha levado uma bala do cupido, e que este faria questão de mostrar pra ele que a mocinha tinha feito o favor de adicioná-lo na rede social (e só veria de noite). O encontro tava salvo, ele não tava mais ligado em Larissa, mas... que coração filha da p...!


L dos Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário